Era uma vez uma briquedoteca, um grupo de voluntários, uma confraternização e uma brincadeira. Oportunidade ímpar para conhecer melhor os colegas com os quais compartilho o privilégio de ser um voluntário. Eis que uma tia começa a falar de si, do que faz e do que a motiva a estar ali. Ela chora. Chora ao nos contar que uma vez prometeu visitar uma das crianças na internação, mas que não conseguiu ir. A criança, algum tempo depois, perguntou porque ela não foi lá. Ela chora ainda mais, dizendo que esse trabalho é uma das coisas mais importantes de sua vida e que nunca mais prometeu algo a uma criança, que não pudesse cumprir.

A odoleta segue, selecionando os tios ou tias que também falarão de si mesmos. São todos lindos, todos anjos. A gente percebe que ali está um mundo que vale a pena, um mundo que brilha e encanta. Meu coração se aquece e a esperança bate forte. É o mundo do amor. A cada história, a cada pausa para um soluço, a cada esforço para conter as lágrimas, todos querem chorar junto, mas alguém grita antes, “Vamos odoletá!”, e todos sorrimos. Uma tia conclui que ser voluntário não é para qualquer um. Realmente e infelizmente não é mesmo. Ser voluntário é mais do que se doar. É assumir a responsabilidade enorme de estar sempre lá, de priorizar aquele momento, de não decepcionar. Mas vamos, que a odoleta continua. Chega a vez dele.

O odoleta o sorteia e o tio começa a falar com seu simpático sotaque hermano. Ali, por volta dos seus 60 anos, o tio nos conta uma história de vida difícil, com problemas de saúde, aposentadoria forçada, salário baixo, dificuldades financeiras na família. O tio nos conta que quando conheceu o hospital se encantou e disse a si mesmo que seria um voluntário ali um dia. Ele começa a chorar e é um choro diferente, todo mundo percebe. Confessa que este era um grande sonho, realizado depois que criou os filhos, apesar das imensas dificuldades que enfrentou e enfrenta. Que hoje, apesar de muitas coisas que o entristecem, ele se sente realizado por estar ali, por ajudar, por se doar.

Ele diz uma coisa inesquecível para mim: “Digo à s pessoas que aqui não tem crianças morrendo, não. Elas estão é lutando para viver”. É… O que há ali é vida, muita vida. Muita luta, muita garra, muita fé. Quem convive com essas pessoinhas e seus pais especiais, se sente mais vivo e mais forte também.

Nesse momento eu choro muito, embora quase todas as lágrimas corressem apenas dentro de mim. Foi um destes momentos em que encontrei mais um exemplo de vida a ser seguido e que sei que me marcará profundamente. Há pessoas tão maravilhosas nesse mundo, com histórias tão especiais. Quantas estão ao nosso lado e nem percebemos. E não são histórias grandiosas materialmente, mas espiritualmente. Pessoas que me causam um estranhamento até. Não parecem seres humanos comuns, como eu. Então agradeço a Deus por estar ali, por conviver com esses tios e tias.

Turma boa!

Obrigado a todos vocês pelas belas lições.